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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Cinema: Curitiba Zero Grau - Crítica



Por Eduardo Brunetto

Um dos grandes pontos positivos de se assistir filmes que não são feitos por grandes indústrias do cinema capitalista que fazem filmes apenas com intuito de vendê-los, transbordando clichês e apenas ação desenfreada, é que esses filmes para terem sucesso devem fazer algo a mais, fazer refletir, uma arte engajada e não apenas números de bilheteria. É exatamente isso que se vê em Curitiba Zero Grau, um filme de Eloi Pires Ferreira.
Dentro da metrópole de Curitiba quatro personagens são apresentados e seus dramas desenrolados pela trama. Um dono de uma loja de carros que se meteu com negócios ilícitos, um motoboy com problemas com a mulher, um motorista de ônibus que abriga uma família sem teto e um catador de papel que não tem dinheiro para comprar um remédio para sua filha. Todos problemas cotidianos que levam a uma catarse rápida para quem assiste, afinal são problemas que podemos ver facilmente em nosso dia a dia.
O ponto chave do filme é a ligação dessas histórias dentro do filme, onde por algum motivo os protagonistas colidem em meio ao roteiro e a partir disso a trama toma outro rumo. E então você lembra que estão todos na mesma cidade, vivendo suas vidas como podem e que mesmo sem querer interferem na vida uns dos outros.
Para os personagens serem apresentados, eles foram colocados um de cada vez dentro do filme, o que gera um cansaço e quando se conhece o último personagem, o primeiro já foi esquecido. Outros pontos negativos do roteiro são alguns personagens e diálogos que foram, obviamente, colocados na trama para praticamente desenhar na sua cara uma explicação para os conflitos que aparecem no filme, ou um narrador que aparece de forma muito irregular para propor uma explicação de algum “buraco” que ficou ou deixar algo mais claro. Essas formas de “facilitar” o filme atrapalham e muito no seu andamento, pois mostram a incapacidade de se usar formas metafóricas e inteligentes ou recursos cinematográficos para explicar os fatos e não joga-los na sua cara.
Mas a compensação vem com o choque entre dois dos personagens que se encontram e com uma aparente simples conversa Jaime (Edson Rocha), o dono de da loja de carros que está prestes a pagar uma bolada para limpar seu nome, e Tião (lori Santos), um simples catador de papel que para conseguir comprar um remédio resolve assaltar, traçam todo o objetivo do filme. Dentro deste universo, dois personagens de classes sociais totalmente diferentes e vidas extremas se encontram, tecnicamente, na mesma situação e a partir de palavras simples mostram o quão pequeno é esse mundo e escolhem seus destinos. Extremamente simples, mas funciona.


               Apesar das falhas e da grande simplicidade Ferreira consegue fazer um filme diferente, que ganhou atenção pelo seu roteiro interessante que com certeza abre portas para novos cineastas paranaenses e para todo um movimento de filmes menores, mas com qualidade. E isso é o que deve ser valorizado.

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