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quarta-feira, 30 de julho de 2014

Cinema: Noé - Crítica

Por Eduardo Brunetto


     Nesses épicos, principalmente os que envolvem passagens bíblicas, é muito comum vermos o roteiro deixar de lado praticamente todo o lado humano dos personagens, que quase sem explicação se encontram engajados e tem seus ideias inabaláveis do começo ao fim do filme. Nesse aqui temos algo diferente, algo mais interessante. Dirigido por Daren Oronofsky, vemos uma representação mais humana e mais complexa sobre o dilúvio.

     Narra-se a história de Noé, um homem que vive na terra  pré-dilúvio, é religioso e segue os ensinamentos deixados por seu pai. Noé tem 3 filhos homens e uma agregada, que para a minha alegria é representada por Emma Watson. Eis que recebe por meio de um sonho a mensagem que o mundo vai acabar por meio de um dilúvio, e que a sua missão era construir uma arca para salvar os inocentes: os animais. 

    Para fazer uma história nova da velha, foi criada toda uma mitologia em cima de textos bíblicos, dando ao épico um tom mais de aventura e de surrealidade quanto a quesitos de ambientação. Esse é um ponto um tanto quanto negativo em termos de imersão, porque quando estamos tão acostumados com uma história, ver ser acrescentado a ela gigantes de pedra que na verdade são anjos caídos acaba tirando um pouco seu foco. Mas existe uma explicação e uma função para a sua existência, tirando o estranhamento inicial que eles geram, eles se encaixam bem na trama. Outra coisa que incomodou um pouco sobre a existência desses gigantes, é que eles são uma prova de que Deus realmente existe, então, no filme, não existe tanto uma discussão sobre fé e se o dilúvio realmente vai ocorrer ou não. Deus existe e pune, a prova? Os anjos caídos.

    Mas este é o posicionamento do filme perante a história, e tudo bem não querer gerar esse tipo de discussão. A fé é abordada de uma forma diferente, não é se Deus existe ou não, mas o que ele quer de cada um e como entender suas mensagens. E é ai que entra Noé, o escolhido par construir a arca, salvar os inocentes e deixar o resto da humanidade afogar. É engraçado, mas eu realmente nunca havia pensado que Noé teve que deixar todo o mundo morrer para cumprir sua missão, e é isso que o filme quer, fazer você  pensar em como essa situação realmente seria se ocorresse, principalmente nas questões emocionais humanas. Isso agrega um tremendo peso para o personagem de Noé, que tem que fazer escolhas cada vez mais difíceis, arcar com responsabilidades e tentar deduzir se é isso que Deus realmente quer dele.

    Porém, essa ambientarão mais aventuresca e surreal com uma discussão completamente humana e racional geraram um certo conflito e uma falta de posicionamento por parte do filme. As discussões morais e humanas, teriam muito mais peso se fossem estabelecidas em cima de um universo mais palpável, que se encaixasse na ideia de encarar o episódio racionalmente. Esse contraste trama te deixa confuso e faz com que o peso de Noé e de suas decisões diminua.




    Mas se pararmos para pensar, a história de Noé e o dilúvio em si é um choque entre racional e irracional, e isso foi passado para as telas, porém com uma distância ainda maior entre os dois extremos. E esse contraste acaba fazendo que ambos percam peso e pareçam desalinhados. E faz com que a melhor parte do filme, que é a evolução do personagem de Noé,  fique escondida entre os gigantes de pedra, os sábios na montanha e as peles mágicas de cobra. Mas mesmo assim, ele gera uma reflexão, gera sensações e acaba valendo a pena assistir, você provavelmente não vai se afogar em excitação, mas deve rolar uma marolinha.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Cinema: X-Men, Dias de um Futuro Esquecido - Crítica.

 Por Eduardo Brunetto



        Novamente vamos ver mais um filme dos X-Men. Já saímos do cinema incrivelmente fascinados, outras vezes extremamente desapontados e algumas vezes até indiferentes com alguns dos tantos filmes da franquia. Mas o que nos faz ter uma maior expectativa dessa vez, é a volta de Bryan Singer a direção. Ele que foi responsável por alguns dos sentimentos bons que eu citei acima quando dirigiu X-Men 1 e 2. Mas será que ele correspondeu à expectativa? Bem, adiantando um pouco a resposta, ele nos entregou um bom filme, mas talvez não do jeito que se esperava.
         
O roteiro é baseado numa revista em quadrinhos de mesmo nome “X-Men, Dias de um Futuro Esquecido”, na qual um membro dos X-Men volta no tempo para impedir a criação dos Sentinelas, máquinas criadas pelo governo para matar mutantes, o que elas fazem muito bem. Wolwerine (Hugh Jackman) é o escolhido, por ser o único capaz de regenerar os danos cerebrais que tal viajem no tempo causa. E ai lá vai ele misturar o elenco de “X-Men Primeira Classe” com os clássicos.
        Se tratando de uma história de viajem no tempo, o roteiro se sustenta quase sem falhas científicas, pelo menos nenhuma que você perceba durante o filme e estrague a sua experiência. A construção dos personagens, principalmente do professor Xavier (Patrick Stewart,James McAvoy) e do Magneto (Ian McKellen, Michael Fassbender) também é um ponto muito forte. Os conflitos criados pelo enredo não possibilitam concluir quem está certo ou errado, quem é o vilão ou o mocinho, são pontos de vista diferentes. Isso torna as motivações dos personagens mais complexas e entrelaçadas e cria espaço para um maior desenvolvimento tanto da sua personalidade quanto dos conflitos que cada um tem consigo mesmo e com o mundo. Essa pode ser considerada a melhor característica do filme: o conflito de opiniões e a forma como isso influencia cada personagem e as suas ações. Misturando isso com viajem no tempo e temos uma bela trama.




       O grande problema é que parece que este filme não está conectado com os outros da franquia X-Men. É como uma história à parte que ignora muito do que já tinha sido estabelecido. Passa por cima de muitos fatos anteriores e conta a sua história não importando o que quer que já tinha sido contado antes. Isso é positivo por um lado, e negativo por outro.
                 

                    Se não fosse essa “desconexão”, seria necessária uma explicação para inúmeras ressurreições (não chega a ser spoiler porque eu não disse quem ressuscita) de alguns personagens e de alguns fatos que o filme mostra que nunca tínhamos visto em nenhum outro filme anterior. Assim, não haveria tempo para desenvolver toda essa questão moral dos personagens que eu citei no parágrafo acima. Mas é claro que isso também nos deixa perdidos, como se tivesse ocorrido um reboot e ninguém ficou sabendo, como se tudo ao invés de ser corrigido, foi apenas esquecido e reconstruído. As vezes é melhor começar do zero, mas existia certa afeição sentimental dos fãs com a franquia no cinema, é estranho vê-la tão ignorada.
           Ainda nesse assunto, o personagem que apresenta maior relação com a franquia anterior é o Wolwerine, não vou falar qual, por que é uma grande surpresa no filme – eu achei pelo menos - mas não chega a ser suficiente. As relações, posturas e características de vários personagens estão muito diferentes das dos filmes anteriores. Tirando o X-Men Primeira Classe, que esse sim encontra um vínculo maior com essa trama, mas ainda sim tem alguns detalhes ignorados.


          Como filme, ele te apresenta uma trama diferente, algo interessante e divertido de se assistir, como um filme dos X-Men, ele te trás uma história nova, deixando os erros para trás ao invés de consertá-los. Pontuar se isso é ruim ou bom, fica para cada um. Você prefere um filme bom que destoa dos outros estabelecidos da franquia da qual você é fã, ou um filme que tenta corrigir os erros e se mantém fiel? Eu fico com a primeira opção.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Cinema: O Espetacular Homem-Aranha 2 - Crítica

             Para começar, este é um filme para quem é fã das clássicas histórias em quadrinhos do Aranha. A trilogia de Sam Raimi trouxe o aracnídeo para o mundo real, tornado-o um personagem bem divergente do que vimos nos quadrinhos, um tanto quanto mais sério e sombrio. Neste filme o tom é outro. Colorido, divertido, mais superficial, menos realista, enfim,  Marc Webb (diretor) faz o Aranha como ele era nas revistas

             O vilão da vez, ou pelo menos da maior parte do filme, é o Electro (Jamie Foxx). Max Dillon é um daqueles típicos caras trabalhadores da classe média que no dia do seu aniversário tem que ficar fazendo hora extra na Oscorp. O cara não tem amigos, sabe-se lá família, mas tem um herói, o Homem-Aranha (Andrew Garfield). Sua devoção pelo Aranha é exagerada, tornando-se até um pouco doentia. Por ter o colega de trabalho mais maldito da história da humanidade (vocês constatarão isso no filme), ele acaba mexendo em cabos de alta tensão ainda ligados, e ai você já pode imaginar o que acontece em seguida. Peter Parker, agora além de ter que se preocupar em descobrir o passado de seus pais, um ponto que é novamente explorado nesse filme,  se preocupar com a segurança de Gwen (Emma Stone), terá também que derrotar o Dr. Manhattan, digo, Electro.

           Alguns outros personagens também são apresentados no longa. A família Osborn como um todo. A Participação de Norman é um tanto quanto decepcionante de tão rápida, e Harry (Dane DeHaan), que da forma rápida de como é apresentado e com que ele passa de garotão pegador de modelos na Europa para um ser maligno, acaba te deixando meio incomodado com o personagem.

           Já deu para perceber que o filme tem certos problemas quando o assunto é construção de personagens. Quanto a Harry, todos os aspectos que o envolvem, desde a sua entrada na trama, até a sua transformação em vilão (isso não é spoiler, dava pra ver no trailer), encontram no roteiro argumentos que o sustentem. Porém apenas argumentar não é suficiente, é preciso me mostrar, provar, convencer. Mas pelo curto tempo usado para desenvolver Harry, não dá tempo de absorver suas motivações - mesmo elas sendo mostradas - nem entender qual é a fonte de sua relação com Peter. Tudo isso faz dele um personagem meio jogado, mal aproveitado.

         Ouvi muitos dizerem que a relação entre Gwen e Peter também é fútil, confusa e mal desenvolvida durante o filme. Concordo que ela seja confusa, até porque ela tem que ser confusa! Mas é bem desenvolvida. A relação dos dois envolve diversos fatores, como o promessa feita por Peter para o Capitão, pai de Gwen, de que ele se afastaria dela, mas ao mesmo tempo existe a vontade de viver a vida e tudo mais. Sem falar que eles acabaram de entrar na faculdade e as pessoas com essa faixa etária são meio confusas. Outra relação muito bem explorada aqui, foi a de Peter com a Tia May (Sally Field). Essa velhinha sempre apareceu nos filmes e nos quadrinhos, mas o seu papel na vida de Peter nunca tinha sido explorado como foi nesse filme. Como eu disse, não é necessário argumentar, mas sim mostrar, e em um diálogo deu para sentir o que um representa para o outro. Mandou muito bem Marc Webb.



Mas chega de melodrama e vamos falar da ação do filme. Esse foi o ponto forte. Luzes, Dubstep, câmeras lenta e a melhor representção da forma de lutar do Aranha já vista, foram o que fizeram deste um filme muito melhor que o primeiro da franquia. A desenvoltura do aranha que vemos no universo dos quadrinhos nunca foi a de um personagem dos mais fortes, mas sim um acrobata que sabe usar seus rescursos como a velocidade, suas teias para construir um terreno que lhe dê vantagem e sua flexibilidade ao seu favor, e na tela do cinema, pude ver como se fosse um sequencia de luta das revistas do Homem-Aranha. Só que animada e muito mais imersiva. Ter o Electro como vilão principal ajudou muito a explorar efeitos de luz e de som e transformar cada confronto entre vilão e herói num verdadeiro espetáculo.

              Se você não gosta de quadrinhos, ou de super heróis em geral, já deve ter achado essa crítica infantil, imagine o filme. Espetacular Homem-Aranha 2, não é como os filmes do Batman, dirigidos por Nolan, que trazem o herói para um um universo tangível, e que não necessitam tanto daquela famosa descrença poética. Esse filme do Homem-Aranha não é nada sem descrença poética. Ele não se preocupa em tratar de se aprofundar em nada, é um filme mais superficial assumidamente. O resultado disso não é um filme ruim, mas descompromissado e divertido. Para aqueles que ainda conseguem deixar o filme acionar  aquela criança besta que você era quando lia os quadrinhos e não ficava questionando quesitos complexos de motivações de personagem, ou questões científicas da origem de super vilões e sim imergir de cabeça no universo que lhe é apresentado, assisti-lo é uma experiência empolgante e até emocionante. Nada como ter aquele herói dos quadrinhos que você tanto gostava representado fielmente nos cinemas, tanto nas parte boas quanto ruins.   


  


quinta-feira, 20 de março de 2014

Cinema: Nebraska - Crítica

Por Eduardo Brunetto


Pode-se dizer que a história de um homem o define. Suas atitudes, suas escolhas e as experiências por ele vividas se aglomeram e formam um indivíduo, desde o momento em que ele nasce até o momento em que ele fica velho, quase senil, e passa a acreditar naqueles tipos de promoções “Parabéns! Você ganhou um milhão de reais” de um panfleto. Por isso, conhecendo esse mesmo homem somente como ele é no presente, sem saber de seu passado, é possível realmente saber quem ele é? Nebraska, dirigido por Alaxender Payne e escrito por Bob Nelson, tenta responder essa pergunta.
Já bem velhinho, quase surdo, um tanto quanto alcoólatra e mais teimoso do que nunca, Woody Grant (Bruce Dern) acredita ter ganho um milhão de reais de um panfleto de revistas premiado e pretende ir até Lincoln, Nebraska buscar seu prêmio…a pé. A família tenta impedir, mas seu filho, David (Will Forte), vendo que é impossível, resolve levá-lo. É então que no caminho eles acabam fazendo uma paradinha na cidade natal de Woody, que vira uma celebridade por supostamente estar milionário.
É um grande erro ir assistir esse filme esperando uma história com começo, meio e fim. Nebraska é um filme que te entrega vários momentos aleatórios que devagar vão construindo a narrativa, não muitas vezes levando em conta se estamos acompanhando o grau de importância que algumas cenas têm para a história em si. Melancólico e lento, o roteiro vai te levando pela viajem de Woody e David sem olhar para o banco de trás e perguntar se você ainda está acordado.
Mas, aqueles com paciência de assistir ao filme até o final, perceberão que esse ritmo tem um motivo. Inicialmente o roteiro te faz analisar os acontecimentos e principalmente as atitudes e tudo o que se fala sobre Woody com base no que foi mostrado desde o começo do filme. Porém, durante o longa tanto David, filho de Woody, quanto nós vamos conhecendo mais do passado desse homem, e passamos a interpretar os fatos com um novo olhar e entender o outro lado da moeda, o lado Woody Grant da moeda.
David conversa com pessoas que fizeram parte do passado de seu pai e começa a conhecer mais sobre a sua história. O que faz crescer tanto em nós quanto em David, um maior respeito por aquele velhinho ludibriado por um panfleto. Ou seja, o protagonista desse filme não é Woody, nem David, mas sim a relação entre um pai e um filho. É também necessário ressaltar a atuação de June Squibb, a velhinha mais sincera que Hollywood já viu. Ela, e alguns momentos bem específicos do filme, como os diálogos arrastados entre irmãos de Woody que quase sempre envolvem carros, formam a parte cômica do longa.

Alguns dizem que o preto e branco do filme serve apenas para sugerir um diálogo com o passado. Na verdade representa mais do que isso, representa a vida de Woody, já preta e branca, degastada e sem graça. Porém, David consegue perceber que ela um dia já foi colorida, agitada, cheia de amores e emoções.O filme até pode ser um tanto quanto chato, arrastado e triste, mas no final ele te faz querer largar tudo, se sentar com o seu velho, tomar uma cerveja e ouvir algumas das histórias que ele tem para contar.



segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Cinema: O Lobo de Wall Street - Crítica.

           Por Eduardo Brunetto    

                Se existe um cara nesse mundo que sabe como contar uma história, esse cara é  Martin Scorsese. Não necessariamente cronológica, porém narrada e explicada pelo protagonista, o diretor quando faz filmes biográficos constrói uma conversa entre o personagem e o espectador gerando até certa afinidade entre ambos. Foi assim em  Os Bons Companheiros (Goodfellas 1990), e é agora em O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street).
               Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio) é um ambicioso jovem que procura nos confins de Wall Street o caminho para sua fortuna. Com certo azar, em seu primeiro dia como corretor, a bolsa de valores sofre uma queda nunca vista desde a grande crise de 1929. A corretora na qual trabalhava, Rothschild, que funcionava já há 100 anos acabou fechando as portas. Desempregado, ele acaba conhecendo o outro lado da sua profissão, na qual ações extremamente baratas eram vendidas para trabalhadores de classe média com um alto lucro de comissão. Jordan não demorou muito para analisar o sistema, encontrar uma forma de se beneficiar, e fazer uma fortuna.
               Mas o filme vai muito mais fundo do que apenas explicar a ascensão e o declínio econômico do Lobo, ele foca em sua vida pessoal, em seus escândalos memoráveis, suas noitadas e nas mais de 1001 formas de se drogar que Jordan encontrava. Episódios famosos como tentar pilotar um helicóptero com apenas um olho aberto após ter tomado uma droga cujo efeito causava visão dupla e afundar um Iate no oceano estão presentes no longa. Além de simplesmente mostrar, Scorsese usa da narração do personagem para de algum modo explicar as motivações e o porquê dessa vida tão desregrada, e até o quão natural isso era aos olhos de Jordan e de seus amigos e quão assustadora é perante os nossos. Somado a isso, o filme tem um ritmo rápido que constrói rapidamente, por meio da narrativa de Belfort, o significado de cada cena, e então de repente a narrativa para, o filme fica mais lento e te deixa apreciar.
               Em termos de atuação DiCaprio está insano. A curva motivacional de seu personagem é realmente muito bem feita pelo ator. Primeiramente é retratado um Belfort já maduro e rico que segundo ele mesmo usava drogas num dia suficientes para dopar Manhattan, Long Island e o Queens, por um mês, que narra a própria história desde quando era um inocente garoto que entrou no jogo dos negócios até se tornar o Lobo de Wall Street. É impossível não mencionar Jonah Hill no papel de Danny, sócio de Belfort. Após seu papel em O Homem que Mudou o Jogo ( Moneyball), Jonah conseguiu fugir dos seus papéis apenas envolvidos com comédia e teve oportunidades de mostrar seu talento em filmes como esse. Sem decepcionar o gordinho de Superbad manda muito bem.
               Cheio de exaltações ao seu estilo de vida fútil e materialista e com certo orgulho de suas proezas, Belfort narra sua história e Scorsese constrói seu filme. Por esse fato, Scorsese chegou a ser criticado por fazer apologia as drogas e a forma geral como Belfort vivia. Concordo que, realmente, o filme te empolga justamente por esse seu lado mais imoral, mas deve-se lembrar de que ele é adaptado da obra do próprio Belfort e tudo que Scorsese faz é passá-la para as telas. Sem falar que o estilo de vida do magnata faz apologia por si só, afinal quem não queria ser um bilionário a custa dos outros e ficar chapado o dia inteiro?  

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Cinema: A Vida Secreta de Walter Mitty - Crítica.

Por Eduardo Brunetto.


Imagine apenas um cara pacato, organizado, e extremamente ligado ao seu trabalho que, inicialmente por uma necessidade, começa a viajar o mundo, conhecer pessoas e vivenciar experiências. É quase que uma utopia para todos, largar tudo e sair por ai, e talvez por isso A Vida Secreta de Walter Mitty (The Secret Life of Walter Mitty) proporcione uma catarse tão intensa quando assistido e ainda, somado a experiência, proporciona uma fotografia deslumbrante, revelando o ótimo trabalho de Ben Stiller como diretor e ator nesse filme.
Walter Mitty (Ben Stiller) trabalha para a revista Life e por muitos anos cuidou das fotos de Sean O’Connell (Sean Penn) um fotógrafo genial que viaja pelo mundo inteiro para tirar suas fotos. Porém, justamente na última edição física da revista, Walter perde a foto que deveria ser a capa mandada por Sean e começa a procurar o destemido fotógrafo pelos mais remotos lugares do mundo a fim de recuperar o paradeiro da fotografia.
               Constantemente sonhando acordado, Walter Mitty sofre de intensos transes que servem para compensar a falta de ação do seu dia a dia e ficam no ar como um desejo do que poderia ter sido, do que ele queria ter feito, mas na verdade não fez. A fotografia extremamente bonita e vívida encontra ai a sua justificativa, pois faz a vida real se confundir com os constantes sonhos de Walter e tornam a realidade tão deslumbrante quanto um sonho. Lembrando um pouco A Vida de Pi (Life of Pi).
               Nos é  também apresentada uma trama romântica. Primeiramente fútil, mas que durante o filme evoluí, assim como o personagem e suas motivações. Walter era inicialmente um cara inseguro que apenas vivia sonhando acordado, e que acaba viajando pelo mundo e amadurecendo. O mesmo ocorre com o filme em si, inicialmente bobo, apresentando tramas simples que vão ficando mais densas e com o passar do filme mais significativas, assim como o próprio caderno de viagem de Walter.
O ritmo do filme é irregular. Por mais que alguns possam achar isso uma cópia do estilo indie de se fazer cinema, Ben Stiler consegue casar essas irregularidades com a personalidade do personagem. Uma hora a cena é lenta, assim como Walter com medo de agir e seguindo sua rotina, e inesperadamente o ritmo muda completamente passando para uma ação alucinada, representando um dos sonhos de Walter, ou uma repentina mudança de motivação.

               Para quem consegue comprar o filme e desligar seu senso de realidade, A Vida Secreta de Walter Mitty se torna um filme prazeroso, cheio de significados, frases e uma ótima trilha sonora. Perdido em uma fotografia surreal e no desejo de aventura do pacato Walter Mitty é possível viajar com ele e partilhar de suas experiências e como disse o fotógrafo Sean para Walter “ As coisas mais belas não precisam chamar a atenção”, porém esse filme chama, mas não deixa de ser belo.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Cinema: Gravidade - Crítica.

Por Eduardo Brunetto




Pensar em uma ficção cientifica espacial cheia de suspense que mistura desespero e agonia com uma pegada incrivelmente realista, já é um motivo e tanto para ir ao cinema. Porém, usar isso de plano de fundo para criar uma alegoria a fim de discutir a vida, suas dificuldades e superações é algo que só Gravidade consegue fazer.
Alfonso Cuarón, diretor, conseguiu fazer qualquer um se perder e só se reencontrar após as curtas uma hora e meia de filme. Nele, é contada a história de Ryan Stone (Sandra Bullock) e de Matt Kowalsky (George Clooney), astronautas enviados para uma missão de reparo em um satélite americano no espaço, quando ocorre um acidente com algum satélite russo criando uma nuvem de destroços. A partir dai o filme se torna uma luta constante de sobrevivência e suspense que chega a tornar o ar rarefeito.
Toda essa imersão ocorre devido à qualidade dos efeitos gráficos, posicionamento de câmera, trilha sonora e atuação. Aqui, os efeitos especiais não são os holofotes da produção, mas funcionam para criar um ambiente tão detalhado e realista que cria as condições perfeitas para o desenvolvimento da história. As câmeras contam com uma constante movimentação, uma hora passando a ideia do astronauta em relação ao ambiente, outra afastando o foco e os tornando parte do espaço. Já a trilha sonora serve para substituir a ausência de som que existe fora da atmosfera e as músicas conseguem simular o impacto e a profundidade de acontecimentos que, no completo silêncio, perderiam a graça. E a excelente atuação de Sandra Bullock fecha o pacote, tornando todo esse ambiente criado por Cuarón vivo e humano.
Mas não é só isso que Gravidade pretende mostrar. É claro que uma trama de sobrevivência e suspense na solidão do espaço acaba atraindo o foco, mas quando se repara o que existe por trás daqueles destroços, do desespero e da trama principal o filme ganha complexidade. Durante o longa, o papel da Dra. Stone, conforme vai sendo desenvolvido e revelando fatos que ocorreram na vida da Dra. enquanto em Terra,  extrapola o simples objetivo de sobreviver diante daquela situação, e passa a exprimir a ideia de renascer. Escolher a vida ao invés da lamentação. Seguir em frente ao invés de se fazer o que é fácil. Tudo isso usando como fundo o cenário catastrófico espacial e escondendo, de certa forma, as semelhanças entre o filme e a vida real.

Gravidade é um filme completo que busca envolver e sugar a atenção de quem assiste até a última gota. E realmente o faz. E quando em posição fetal a Dra. Stone flutua dentro de uma nave como se estivesse em um útero, o propósito do filme fica claro, a dúvida que resta é o quão impactante isso é para cada um do outro lado da tela.